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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO segunda parte ou: "DE FRENTE COM O PRECONCEITO"


Dentre as muitas lembranças tem uma com lugar especial na minha memória, pois aí se deu a minha primeira batalha contra o preconceito: O SESI é uma instituição muito organizada, e quando eu comecei, tínhamos aulas regulares com uma professora: Maria das Dores, que precisou sair para entrar aquela que seria para mim um outro modelo profissional de raro valor, e que mais tarde se tornou  com muito orgulho para mim, “colega de trabalho” Professora Maria Conceição Diamantino.Tínhamos ainda um professor de música e outro de teatro, apesar do conteúdo da época em teatro e música, se restringissem ao calendário político/cívico, foi uma experiência ímpar, pois tínhamos a oportunidade de exercitar a criticidade.
Era época das comemorações da independência, e o professor  decidiu encenar conosco esse momento histórico, ele mesmo escreveu o texto, organizou os personagens e começou juntamente conosco a estudar o figurino da época, passamos então a definir os papéis; inicialmente, o professor perguntava quem queria ser o que, depois ele dava um “jeitinho” para que os atores se ajustassem à imagem construída pela estória, além de que, era preciso levar em conta a capacidade leitora de cada um bem como o poder de memorização. Eu sempre fui uma leitora viciada, e de tanto ler a peça, sabia-a quase que de cor. Na minha inocência, quando fui perguntada (falta de tato) disse que queria ser a princesa  Leopoldina, (eu era a única que recitava com segurança todos os nomes da princesa) o professor deu um risinho, mais cortante que uma navalha, as crianças nada disseram, na verdade eles não viam nenhuma objeção ao fato, (todos nascemos puros) quando o professor abriu a boca, o que saiu de lá de dentro hoje, seria motivo para processo: “ Você vai ser a aia.² (que entrava muda e saia calada) “A princesa tem que ser branca.” Só quem não riu foi meu irmão. (puro milagre) Minha resposta saiu em meio as lágrimas, “ Aia eu não vou ser, quero ser a princesa.” Parece que a psicologia desta época era a da caserna. O professor disse que não queria mais falar no assunto pois estava no fim da aula. Talvez as professoras nem se lembrem mais, talvez este fato possa ter se misturado a tantos outros que acontecem pela  vida a fora, mas eu, sei exatamente qual foi a sensação que tive, depois de ter recitado a fala da princesa para  a minha professora Conceição, para a professora Marina Célia,para a  professora Maria Helena, e quando elas se uniram na briga por mim, quando a querida professora Marina Célia disse que arte não tem cor, que se existe homem que se veste de mulher e vice-versa, como uma pessoa negra não podia fazer papel de branco e o branco de negro? Assim eu fui a princesa Leopoldina. No ano seguinte me candidatei a rainha do milho, mais ai tinha que vender bilhetinhos, e apesar do meu cabo eleitoral(meu irmão) ter vendido muito, eu fiquei em segundo lugar, mesmo assim o meu próprio aliado,(meu irmão) colocou-me o nome de “rainha do milho queimado”, mas logo esquecemos esta história, a gente sempre tinha outras. O que sei, é  que estas experiências  vivem registradas na minha memória, e são  responsáveis pelo meu pensamento de que devemos rechaçar qualquer tipo de discriminação e preconceito, e que é necessário que o professor esteja atento, inteirado  e sensível para as diferenças de seus alunos.

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