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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Violência na escola- A culpa é de Deus?

É comum nos dias de hoje ouvirmos pais e mães dizerem que já não sabem mais o que fazer com os filhos, quando seus comportamentos não se adéquam aos socialmente aceitos.
Resolvi percorrer o caminho apontado por esses (as) pais (mães) até chegar ao que chamarei limite da paternidade (maternidade).
Ao nascerem meninos e meninas são lindos e rechonchudos filhotes. É fantástica a capacidade humana de se encantar por filhotes, são todos tão fofos e dependentes que fazem aflorar o mais profundo sentimento de amor no ser humano. (Qualquer atitude contrária a esse sentimento é imediatamente condenado).
Pais e mães encantados com seus (suas) filhotinhos (as), muitas vezes não se dão conta de que esses seres serão adultos um dia, e que grande parte do “mimo” e das “gracinhas” da primeira infância irá definir o ser humano que ele ou ela se tornará.
Lembro com muita freqüência os pais (normalmente as mães), dizerem que os filhos foram dados por Deus, que Deus vai tocar no coração da criança e fazer com que elas melhorem o comportamento, ou que foi Deus quem quis assim.
O primeiro ponto da minha discussão é Deus não deu! Você pediu. Dito isso cabe esclarecer que pedir não é necessariamente verbalizar, ou ajoelhar-se em orações e promessas pedindo o filho.
Peço, quando mantenho relações sexuais sem prevenção, e atualmente eu peço, quando recorro à ciência para conceber.
O segundo ponto é que Deus só poderá tocar no coração de alguém, se esse estiver aberto para ser tocado. E essa abertura começa a ser feita quando a gente entende que Deus não quis assim.
Deus quis, e por isso nos tornou adultos, que servíssemos de modelo, guia e orientador para os filhos que pedimos.
A abertura começa, quando iniciamos nossos filhos no amor a Deus, a si mesmo e ao próximo. Quando ensinamos que “Eu” não sou mais ou menos importante que “você” ou “Nós”.
“Ensina o seu filho o caminho que deve andar” (Bíblia Sagrada). Esse deve ser o princípio da educação familiar.
Se eu estimulo e acho engraçadinho, quando um bebê com suas mãozinhas gorduchas e cheias de dobrinhas dá um tapinha no irmão maior, no pai, tio ou vizinho. Quando o pequenino começa a falar, e alguém diz um palavrão, ele repete daquele jeitinho lindo dos bebês, e todos riem. Ou quando o filhinho lindo não quer fazer algo e eu dou tapinhas nas suas perninhas. Estou ensinando ao meu filho o caminho que deve andar
Partindo do principio de que somos aquilo que cativamos...
Cabe a cada um responder: Foi Deus quem deu?
Foi Deus quem quis?
Você colaborou para que o coração do seu filho se abrisse para ser tocado por Deus?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PODE CHEGAR

PROJETO AUÊ.wmv

AS MÁSCARAS DO TEMPO PEDAGÓGICO

Tempo pedagógico: esta tem sido a preocupação ou a principal fraqueza das escolas públicas da atualidade. Lendo os PDES de algumas escolas pode-se constatar que  a maioria deles tem o tempo pedagógico como fator determinante de  ineficácia. Tal preocupação, pauta-se numa única vertente, a de que o tempo em sala de aula não é aproveitado em toda sua  plenitude, ou seja, a de que algumas atividades desenvolvidas pelo professor não são concebidas  ou planejadas para garantia de aprendizagem. No conjunto destas atividades estão as rotinas (chamadas, recreio etc), atividades que dariam excelentes projetos de vida cotidiana.

Segundo a LDB,  cada aluno deve participar de quatro horas aulas diárias durante  duzentos dias anuais.  Tomando a legislação como base, assola-me um questionamento: O que ocorre com a aprendizagem dos alunos, haja vista as freqüentes  constatações da  má qualidade das aprendizagens das crianças, principalmente das oriundas das escolas públicas? Tal preocupação levou-me a pelo mundo dos cálculos  na tentativa de encontrar, não a causa do baixo desempenho dos alunos, mas, o principal agente  causador do comprometimento da aprendizagem das crianças.
Como resultados da minha experiência e das conversas com outros profissionais de educação que vivenciam o dia-a-dia da realidade escolar perceberam inicialmente a existência de três modelos de professores que exemplificam o que vem sendo feito na intimidade das unidades escolares e que nem sempre é percebido pelo PDE:

O primeiro professor escolhido é o que falta um dia em cada semana, quer por motivos de foro íntimo, quer por razões de saúde (dores de estômago ou de cabeça, mãe adoecida, T.P.M.,doenças psicossomáticas,consultas médicas, aulas extras na faculdade etc.). O resumo de tais problemas: 4 ausências por  mês.

Considerando que o ano letivo começa em fevereiro e que o período de dezembro é menor, e, portanto ele não faltará, teremos aí um total de 40 dias/ano. Consideremos ainda, que o planejamento e sessão de estudos dessa escola sejam mensais, teremos mais 10 dias, que obviamente não poderia ser considerado como perda, se o professor tivesse uma freqüência regular, pois tanto planejamento quanto o estudo são essenciais para quem  deseja desenvolver um trabalho com  qualidade. Enfim, 40+10 = 50. Consideremos que, o aluno comece com esse professor no primeiro ano de escolarização e  o siga até a quarta série ,  ao final dos quatro anos,  o sujeito terá perdido literalmente 200 dias de estudo, ou seja, o tempo de escolarização desse aluno será de apenas 3 anos ou 600 dias:  75% das aulas.

O segundo professor não falta, mas,  se a aula na sua escola começa às oito horas, ele chega todos os dias às oito e meia; e se o recreio da escola tem duração de  20 minutos, o de sua classe dura 30, pois ele precisa conversar com os colegas no corredor. Nesse processo  é perdida uma hora diariamente, o  que no final de uma semana representa  cinco horas ou, um dia letivo, mais uma hora de aula. Pode não parecer, mas esse professor compromete mais o tempo pedagógico que o anterior, pois apesar de não comprometer o planejamento e os estudos (mesmo chegando atrasado) atrasa-se também nas duas semanas do mês de  dezembro, somando mais dois dias letivos e duas horas  de improdutividade.Vamos ao cálculo: 
 1 dia e uma hora  semanal = 5 dias mensal  x  10 meses  = 50 horas anual  + 2 dias e  2 horas de dezembro =  52 dias e duas horas. Ao final de 4 anos   a perda do aluno terá sido de  210 dias letivos. Mais de um ano perdido, enquanto um aluno “normal” estuda aproximadamente 800 dias este aluno terá estudado 590 dias, ou, 73,75% das aulas.

O terceiro  professor é aquele que, se a aula começa 13 horas, ele chega às 13:30 h. e seus alunos já estão sozinhos na sala de aula.  Ao entrar na escola seu caminho é qualquer outro menos  a sua sala de aula.Entre conversas e outras providências particulares,geralmente são gastos 30 minutos. Quando vai para a sala ,  invariavelmente escreve no quadro algo do tipo “faça de um a mil” ou “Separe as sílabas das palavras:” para que as crianças se ocupem olha revistas de cosméticos ou seleciona as atividades  (que  deveriam estar pronta com antecedência).. Quando as crianças terminam já são 14h30min + A atividade não é corrigida porque o único objetivo dela era ocupá-las. O tempo pedagógico dessa turma é, com muito boa vontade, de apenas duas horas e meia diariamente.  Ao final de cinco dias, a defasagem é de 6h50min h. O que em um mês serão 6 dias  e  2 horas perdidos.  Este se assemelha ao professor número dois, pois faz o mesmo nas duas semanas de dezembro: penalizando o aluno em mais 3 dias e 1 hora . A soma disto tudo no final de um ano será  a perda de  83 dias e uma hora de aula , e esta hora no final de quatro anos se transformará, obviamente, em 4 horas; ou seja: um dia, que, juntando aos 83 multiplicados por quatro gerará  a assustadora quantia de 233 dias jogados no lixo. Estas crianças estudarão apenas 567 dias  ou, 70.8%.  Estarrecedor, não?

Suponhamos, pois, que a prática da escola em que trabalham esses professores não seja aquela em que um mesmo professor acompanha a classe por quatro anos, e essas crianças  possam  passar um ano com cada um dos três  professores, a soma de três anos será de 185 dias e 3 horas a menos,isto se  tiverem a felicidade de encontrar um professor, que apesar de  ser exceção,  existe. Esse quarto professor é um ser humano, e como tal, sujeito aos  imprevistos da vida, tais como doenças, acidentes...e , mesmo assim  assume com responsabilidade seus compromissos pedagógicos . Demos então, por conta dos acontecimentos inesperados, uma previsão de 15 faltas anuais. Mesmo assim essas crianças após quatro anos de escolaridade terão uma  defasagem de dias/aulas de  200  dias e três horas  anuais  Se todos os professores aqui citados, trilhassem caminho semelhante a esse último, haveria defasagem de dias sim, mas seria muito menor e mais facilmente recuperável.

Numa sociedade competitiva como a nossa, onde cada vez mais o conhecimento determina o papel que cada um  irá desempenhar nela,  estes alunos estarão sempre em desvantagem. Quando hoje se questiona a qualidade dos sujeitos egressos das escolas públicas, é preciso se pensar na qualidade de uso do tempo dispensado a eles. Fala-se hoje no sujeito que se quer formar e nas competências que devem ter para agir no seu entorno social. Neste sentido alguns questionamentos se fazem necessários: “Quem” serão estes sujeitos que têm hoje usurpada a garantia do tempo mínimo de escolaridade? Estamos formando sujeitos críticos éticos e questionadores, quando não temos no conjunto de nossas próprias competências enquanto educadores a capacidade ética de autocrítica e questionamento, quando não somos capazes de fazer o que é considerado correto se não tivermos sob  a mira das “fiscalizações”? Que mérito existe nos discursos bonitos, pra especialista ouvir, se nossas atitudes  são até amorais e contradizem todos os pressupostos existentes? Como exigir respeito e valorização profissional, se agimos sem o mínimo de profissionalismo? Com que “cara” atuaremos nos movimentos sindicais reivindicando  melhorias salariais?

Como guia e orientador do processo de aprendizagem, inquieta-me pensar no  modelo que estão sendo esses  três professores para seus alunos. Ao que tudo indica todos partem do princípio do “faça o que digo, mas não faça o que faço”.Ou da lei de Gerson: "Ter que levar vantagem em tudo”.Mas que vantagem há em olhar para trás e ter a certeza de que não se fez nem a metade do que poderia ter feito, não apenas como professor, mas como ser humano e que deveria ser humanizante de outros seres? Que vantagem há em saber que lá mais adiante na vida, aquele aluno que foi posto sob sua responsabilidade, por conta do seu pouco caso, irá sofrer as conseqüências das desigualdades ocasionadas pela falta de conhecimento, e que certamente seu caminho será mais curto na linha ascendente do que um  outro que pode contar com o tempo bem aproveitado pelo professor, ou ainda, que  o sujeito poderá olhar para o passado procurando um professor que tenha sido um “outro significativo” para ele e não encontrará.?

É corrente ouvirmos falar de “respeito ao tempo de aprendizagem do professor,”  ou  de “não carregarmos culpas pelos erros cometidos.” Acredito que assim deve ser, mas, as crianças não podem continuar perdendo um tempo que é precioso, e que provavelmente pelo seu nível social não terá  retorno. Precisamos parar com a cultura de formar “paus mandados” como nós, e começarmos a pensar em nossos alunos como lideres do presente e do  futuro. Se antes não tínhamos modelo de líder saído do povo, hoje temos o presidente Luis Inácio Lula da Silva. Para isto, nós professores somos, se quisermos determinantes.

Não tenho a pretensão de julgar ninguém, pois sei que somos hoje, reflexos do que ontem recebemos, mas desejo que este artigo cale fundo no coração de um ou outro educador  que, por caso  esteja trilhando  um dos três caminhos acima, e o faça  no mínimo pensar. E, como eu acredito que, quando queremos mudar para melhor  as forças positivas conspiraram a favor, que esta conspiração favoreça os nossos alunos, pois o quarto  caminho é o  mais tortuoso, mas é muito mais gratificante. E como diz o humorista, “para que possamos botar o cabeção no travesseiro e dormir tranqüilos”
Escreví esse texto, quando o ensino fundamental tinha a duração de 8 anos. Imagino para onde vão as contas agora que a duração é de nove anos, e a esse espaço de tempo são acrescidas as reformas intermináveis.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

"EU SOU BRASIL, EU SOU BRASIL OH PÁTRIA AMADA!!”

 Creio que o 15 de novembro é uma boa data para publicar esse texto.

Que me perdoem os autores do Hino Nacional  estejam no plano em que estiverem, que me desculpem os que não conseguem compreender a dimensão da epigrafe deste texto, mas  durante toda a minha vida profissional, nunca ouvi algo mais lindo, mais cívico ou mais patriótico do que isto.
A Escola Municipal Comunitária Bom Juá localiza-se na periferia urbana da cidade de Salvador, as crianças que estudam nesta escola, conhecem todas as faces da pobreza e da carência que a sociedade lhes impõe. Apesar de todas as mazelas da vida, não é a pobreza que mais chama a atenção nessas  crianças,elas são  iguais a tantas outras que existem no mundo: arteiras, levadas, bagunceiras, umas tantas fazem parte de famílias conturbadas outras convivem com a harmonia de lares equilibrados, algumas estudiosas outras nem tanto. Porém o que mais surpreende  é a capacidade afetiva que elas tem. Se eu fosse poeta, talvez dissesse que elas aprenderam a amar sem medidas, a gostar sem reservas, a dar muito carinho e pedir muito pouco. Graças a Deus elas não estão contaminadas com as vergonhas que assolam a humanidade, elas não conhecem a corrupção, a politicagem, vivem as violências diárias, mas a maioria ainda possui a pureza e a paz que fazem com que as pequenas desavenças se resolvam num largo sorriso.
E nesse amar sem reservas, os meninos do Bom Juá amam o Brasil.
 Escolhi o Hino nacional para falar nesse amor sem fim.
Faz parte da rotina da escola cantar o Hino Nacional todas as segundas e sexta-feiras e foi nesse cantar que percebemos que os meninos e meninas de lá compreendem o verdadeiro sentido do amor patriótico pela nação.
Apesar de já terem estudado a letra do hino exaustivamente, dos professores terem organizado situações didáticas para a compreensão do significado das palavras, não há quem consiga fazer com que eles cantem determinada estrofe da maneira como foi concebida pelo autor.
Não se enganem eles não se equivocam nas palavras de pronuncia mais difíceis como: plácidas, retumbante, fulgido, idolatrada, lábaro, clava. O que eles trocam e acredito que é conscientemente, porque alguns sorriem neste momento é a estrofe que diz: “Dentre outras mil és tu Brasil oh Pátria amada”.
Dos filhos deste solo és mãe gentil Pátria amada Brasil.
Na minha compreensão eles conseguem ir muito além do texto original, pois quando cantam, falam de amor  filial, orgulho e sentimento de pertinência, que faria do Brasil uma nação muito melhor ao subverterem a letra do hino cantando: “Eu sou Brasil, eu sou Brasil oh pátria amada!”
Sonho com o dia em que, todos os brasileiros; homem ou mulher, adulto ou criança possa bradar aos quatro cantos do mundo-Eu sou Brasil, oh Pátria amada! Ou “eu sou homem oh pátria amada,” “eu sou mulher oh pátria amada” “eu sou homossexual oh pátria amada” “eu sou branco, preto, indígena, amarelo, oh pátria amada”. Mas que principalmente possam gritar: -“Eu sou humano, honesto trabalhador, digno, pacifico, pacifista,  tolerante, oh pátria amada.”
Sonho com o dia em que milhões de brasileiros possam ter orgulho em subverter o hino nacional e amar sem medidas, como os meninos do Bom Juá, e que essa subversão seja profunda, que invada as almas e encham os peitos. Nesse dia,espero que aconteça, bem antes que os meninos do Bom Juá cresçam, ai então teremos a certeza de que essa é uma nação com um passado,colocado no lugar em que deve estar, no lugar daquilo que serve de alicerce para construção do futuro, e que o presente  está sendo construído de forma a  encher de certeza aqueles que fizeram o passado, de que a sua passagem pela história de nossas vidas (inclusive os autores do hino Nacional) não foi em vão.

ACELERANDO A VIDA


Apesar dos longos anos de atuação em classes conflitantes, a minha dor de educar iniciou-se quando assumi a classe de aceleração de uma escola num dos bairros periféricos de Salvador, sabia que a empreitada não seria das mais fáceis. Primeiro, porque resido nas proximidades da escola e, portanto conheço a fundo sua história, segundo porque naturalmente uma classe de aceleração por si só constitui um desafio especial pelas características daqueles que formam o corpo discente. Lembro-me,  que  a primeira grande dor aconteceu logo no inicio de nossas relações; pois, apesar do conhecimento já posto, pessoas são pessoas, assim sendo, passei a lidar com um cem número de baús fechados e prontos a surpreender-me, atacando ou defendendo-se  a cada nova investida
Quando escolhi a classe de aceleração (nenhum professor queria), praticamente fui taxada de louca, muitos foram os que vieram até mim para relatar as experiências mal sucedidas com aquelas crianças. Felizmente não costumo me deixar levar pelas opiniões alheias, e pude descobrir em pouco tempo, era que a maioria dos problemas imputados ás crianças, tinham suas raízes nos adultos, em muitos dos casos nas famílias e na mesma medida nos professores.
A maioria dos defeitos apontados nas crianças diziam respeito a disciplina , ao “desrespeito”, a falta de higiene e a ausência dos familiares. Aos poucos fui descobrindo a verdadeira origem dos “defeitos” de cada um.
Meu grupo era composto por 27 crianças, com idade que variavam dos 08 aos 11 anos, tendo em comum a revolta contra a escola. Revolta só possível de ser percebida através de juras e promessas de que aquela conversa não sairia da sala, pois a maioria já estava contaminada pelo medo de que a verdade trouxesse as retaliações. Passei então a ser confidente das crianças. E nos meus mais de dez anos de sala de aula, nunca tive oportunidade de lidar com crianças que sinalizassem tão abertamente contra as arbitrariedades que a vida e conseqüentemente a escola vinha cometendo contra eles. Apesar de possuir bons profissionais, a escola tinha também aqueles que em hipótese alguma poderiam lidar com crianças.
Cada criança trazia consigo as marcas dos anos de repetência e de experiências malogradas com esse ou aquele professor. Alguns por pura falta de sorte, ou por capricho mesquinho dos adultos, vinham de anos de repetência com o mesmo professor que o reprovou pela primeira vez.
Durante dois anos estive com o grupo, conheci suas histórias, entrei em suas casas, conheci as famílias daqueles que tinham, fui ao Conselho tutelar, enfrentei crianças com histórico de ingestão de álcool na escola, sofri ameaças e fui defendida pelas próprias crianças ou pelas famílias delas, interferi direta ou indiretamente em algumas relações conjugais. Virei amiga e até hoje privo da amizade dos que ainda estão por perto, pais e mães de famílias trabalhadores, desempregados. Nesse processo, perdi seis pessoas para a marginalidade, mas mesmo quando fizeram a escolha por esse tipo de vida, continuaram demonstrando o mesmo respeito e carinho que tinham por mim no tempo em que estivemos juntos.
Com esse grupo aprendi que a vida é uma escolha, mas essa escolha não é responsabilidade apenas dos meninos que escolheram trilhar por caminhos diferentes do meu, ou pelo caminho mais “fácil”. São escolhas daqueles que optaram por guiar esses seres que dependem da sua opção. A pessoa pode não ter escolhido nascer na miséria, mas pode escolher fazer dessa miséria, uma alavanca para uma vida diferente. Mas diferentemente dos que nascem sem pedir, os que optam por ser professor, de qualquer forma escolhe o modelo de professor que quer ser. Existem os professores que são esquecidos,pois não fizeram diferença, nada acrescentaram na vida das pessoas. Também existem os professores que são lembrados com mágoa, revolta e desejo de vingança. Mas existem os que são lembrados para toda a vida, porque foram incorporados nas personalidades das pessoas. São verdadeiros modelos

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

EDUCADOR


 A DOR DO CONFLITO DE QUERER CONHECER.
 DA IMPACIÊNCIA DA PRESSA PELO SABER

EDUCA A DOR DA  MENTE CHEIA DE IDÉIAS,
 DA BARRIGA VAZIA DE PÃO.
DA FALTA DE TETO PARA A CABEÇA,
 DAS PAREDES E DO CHÃO.

EDUCA A DOR DO  PASSADO DESCONHECIDO
FUTURO  INCERTO DE  PRESENTE.
A DOR DA PERDA DO PAPEL DA FAMILIA
 DAS  ALMAS  EM DESALINHO
DO MEDO DE  QUEM PODE
SE PERDER PELO CAMINHO
                                                       .

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TARDE DE AUTOGRÁFOS





LIVRO DE POESIAS























OFICINA: QUANTO MOVIMENTO


TEXTO 1




                                                                 José Paulo Paes


O sapo saltou na sopa
de um sujeito que, sem mais papo,
deu-lhe um sopapo e gritou:
Opa!
Não tomo sopa de sapo!



TEXTO 2 

Roseana Murray

Um pião se equilibra
na palma da mão,
no chão, na calçada,
e alado vai rodando
por cima dos telhados,
gira entre as nuvens,
cada vez mais alto,
até que num salto
alcança a lua
e rola
até o seu lado oculto.
Faz a curva o pião
e ruma para Saturno,
tropeça nos anéis,
dá três cambalhotas,
se pendura
numa estrela cadente
e, sem graça,
volta para a palma da mão
 TEXTO 3
Elias José
Maroca: a vovó cocota


Vovó Maroca
toda cocota
toda vaidade
setenta anos
é mais pra frente
que muita gente
de pouca idade.

Vovó Maroca
se é calor
apanha a tanga
pega a motoca
vai pegar cor.

Vovó Maroca
se vai a festa
não se definha
não perde a linha
e ainda testa
o que é novidade
pra mocidade.

Vovó Maroca
se apruma
e se arruma
é um modelo
frente ao espelho.
Só “jeans” azuis
bata estampada
pouca pintura
e nada de tintura
no seu cabelo.

Vovó Maroca
não tem segredo.
E se há problema
só há um lema:
não ter medo
e enfrentar a vida
de cabeça erguida.

TEXTO 4

Manoel Bandeira
Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)


Produto: dramatização  coreografada da poesia